segunda-feira, 11 de julho de 2016

Subida do Pico da Bandeira 10-07-16

Mais uma trilha que queria fazer há tempos. Quando fui ao parque nacional do Caparaó uns amigos tiveram dengue e voltamos às pressas. Afinal, trata-se do 3o maior pico do Brasil com 2890 metros de altitude e não fica a uma distância tão grande do RJ.

O maior empecilho pra voltar ao parque e realizar a subida é que ele fica muito longe do Rio. são quase 500 km de distância até a portaria de Minas, sendo que carros levam 5-6 hs e ônibus quase 7 hs pra chegar em Alto Caparaó (cidade base do parque). Sou uma pessoa que sente muito sono, e dirigir de noite é um problema. O custo com gasolina e pedágio indo sozinha também inviabilizou o projeto por muitos anos, Por fim, vi a oportunidade de realizar a subida em um grupo de trilhas pagas. Abracei a oportunidade e pronto.

Aprontei a mochila em cima da hora. Não foi legal pois não achei minhas segundas peles e não tinha mais tempo de sair pra comprar nada. Levei barraca pra uma pessoa Mini pack da Azteq (muito boa pra travessias pois pesa menos de 2kg, tem resistência a 3000 mm de chuva, não é inflamável), isolante térmico, lanterna de cabeça (com pilhas extras), bastão de caminhada, cadeado, travesseiro inflável, uma muda de roupa, uma meia calça e duas calças legings para a subida, um fleece e um casaco 3 em 1 (fleece e corta vento que são separáveis), cachecol, luvas e gorro, papel higiênico, nécessaire, toalha de rápida secagem, 2 sopas Vono, castanhas, barras de cereal, maçã seca, dois sanduíches com pasta de atum, sacos extras para lixo e roupas sujas, talheres plásticos para camping, panela de alumínio para camping, protetor solar. Faltou um fogareiro, mas havia combinado de usar o dos colegas de trilha.

Chegando em Alto Caparaó, pegamos um jipe para nos levar até o primeiro acampamento do parque, a Tronqueira, de onde saía a trilha para o segundo acampamento, que era onde montaríamos as barracas e ficaríamos até a hora de subir a trilha. 

O trajeto Tronqueira-Terreirão é de 3,7 km. O primeiro quilômetro é puxadinho, o segundo é bem mais tranquilo e do terceiro para o fim é muita subida também. A trilha é completamente descampada, anda-se sobre muita rocha e pedrinhas soltas, são raros os trechos de terra batida...

Inicio da trilha Tronqueira-Terreirão
Quando avistar a sua esquerda a primeira queda d´água com poço ao longe, está chegando ao primeiro quilômetro, ou seja, as coisas vão melhorar em termos de subida. Passa-se por diversas quedas d´água ao longo do trajeto, mas não entrei em nenhuma pois não estava com roupa de banho, muitas desviavam do trajeto que eu tinha que seguir com o grupo, e estava bem frio. Tem um trecho lindo da subida no qual dá pra ver o tapete de nuvens tão característico que fica por lá um pouco abaixo do 1o acampamento (Tronqueira).

1a queda d´água
Trecho mais bonito da subida de Tronqueira ao Terreirão
Tanto nesse trajeto quanto na subida para o Pico da Bandeira, existem diversos caminhos abertos, quase paralelos, que levam ao mesmo destino. O importante é ficar atento às estacas de madeira com a borda pintada de amarelo ou azul claro, ou então às setas e marcações amarelas pintadas nas pedras. Na trilha do Pico da bandeira, a tinta é fluorescente facilitando encontrar o caminho, mas haviam trechos longos sobre rocha onde as sinalizações estavam espaçadas e era difícil saber se estávamos no caminho correto.

Quase chegando ao Terreirão, há uma placa indicando que faltam apenas 200 m para o acampamento, mas essa distância parece muito maior pelo fato de ser uma subida bem íngreme e de se estar com mochila cargueira.

O Terreirão é um espaço bem amplo, tem uma casinha para aqueles que não subiram com barracas (mas fica sujeita à lotação), tem a casinha dos guias do parque, tem algumas mesas com bancos de madeira, banheiros femininos e masculinos e por fim uma área para lavar as louças. A área de lavar louça tinha esponjas disponíveis e com cara de novas, assim como sabão de côco. Os banheiros só dispõem de dois chuveiros com água fria (deveria ter aquecimento solar, mas todas as vezes que fui ao parque estava sempre quebrado, e no entanto cobram entrada!) e a água é tão gelada que meu couro cabeludo ardeu durante 1 minuto depois de molhar e fiquei com dor de cabeça... Olha se for inverno não lave o cabelo à noite em hipótese alguma!! Os banheiros não dispõem de papel higiênico também, e os sanitários nem têm mais assento.

Visão panorâmica do lado direito do acampamento Terreirão
Chegamos por volta de meio dia e meio. Após armar a barraca e comer um sanduíche de atum que levei, dormi umas duas horas de tão cansada que estava antes de tomar banho. 

Minha barraca de menos de 2 kg (só cabe uma pessoa)
Fui ver o pôr do sol por volta de 17h15: junta todo mundo do acampamento pra assistir, o que é bem chato pra tirar fotos. Eu só estava com meu celular que tem um péssimo flash e sensibilidade noturna, mas tive a ideia de usar a lanterna pra iluminar meu rosto depois que o sol se pôs e deixou o céu com o horizonte laranja lindo. A água da torneira desse acampamento é boa para consumo, bebi a vontade (sem clorin) e nada de passar mal. 

Panorama do pôr do sol e amontoado de espectadores no Terreirão
Pôr do sol no Terreirão: início meio e fim
Comi duas sopas Vono e preparei um chocolate quente pra levar pro pico na garrafa térmica. Isso eram 18h30, coitada de mim que achei que a garrafa ía dar conta de manter o chocolate quentinho até o pico com o frio que estava fazendo.

Tentei muito dormir até 2h da manhã, que era o horário de saída combinado, mas tudo em vão. O frio era tanto, mesmo com meia calça, 2 calças legings, 2 meias, fleece, luva, gorro, isolante e saco de dormir 0oC que foi impossível. Meu pescoço doía muito por estar encolhida, mesmo com o travesseirinho.

Às 2h em ponto, saímos rumo o cume. A trilha de 3,2 km é muito íngreme, passa por uns paredões de rocha a 45o dependendo do caminho/bifurcação que se pega, e exige excelente preparo físico. Fiz em 2h30, e os mais lentos do grupo fizeram em 3h40. Não aconselho sair 2hs. Acho que sair às 3h é mais sensato pois o frio que faz la em cima é impraticável e o sol só nasceu por volta de 6h20. Tivemos que esperar duas horas que foram as mais sofridas da minha vida. Tentei me abrigar entre algumas rochas, mas o local estava apinhado de gente que já tinha pego os melhores refúgios... O jeito foi tentar pedir para os colegas ao lado se aglomerarem o máximo possível. Foi muito duro... O vento criou uma sensação térmica realmente muito pior do que os graus negativos que estava fazendo lá em cima. Pra subir com saco de dormir, mantas etc, você acaba levando muito peso numa subida bem puxada. Tentei beber meu chocolate quente, mas estava frio. O topo estava bem cheio, e a disputa por fotos foi grande. Difícil conseguir bater uma boa foto sem ninguém ao fundo.

1- De noite no frio, 2- Horizonte começando a clarear, 3- O sol nascendo, 4- Sol da manhã aquecendo
Babando no sol

Assistimos finalmente ao nascer do sol, e quando o sol raiou de vez, foi um alivio sentir o calor no rosto e corpo!

Cume do Pico da Bandeira (2890 metros)  depois do amanhecer

Voltamos umas 8h30, e percebi que tinham muitos caminhos pra chegar lá no topo, e que pegamos alguns dos mais íngremes sem enxergar muito bem, A descida exige dos joelhos, me lembro de pensar o tempo inteiro que não podia torcer o pé. 

No acampamento, fui direto tomar banho, quase tive um choque térmico ao lavar o cabelo, e daí comi mais um sanduíche de atum e fui desmontando tudo e arrumando a mochila. Saí antes do grupo pois sabia que teria que ir devagar por conta do meu joelho. O sol castigou na descida, estava bastante cansada.

Na cidade, almocei num buffet que era 15 R$ a vontade, em um restaurante quase em frente à sorveteria da praça principal. Lá não tem muitos restaurantes. Esse em particular tinha pouca opção, mas deu pra matar a fome com um prato de arroz, feijão, batata frita, e macarrão com molho de tomate. Tinha coxa de frango ensopada, carnes e lasanha a bolonhesa, mas eu não como carne nem coxa de frango.

Esperando o grupo todo descer e almoçar, só saímos do Caparaó às 14h40, e chegamos no RJ às 22h30. 

No dia seguinte, minhas pernas estavam tão doloridas que ficou difícil descer escadas, mas estou feliz! mais uma trilha feita e um lugar lindo que conheci.

Agora que subi, não sei se voltaria no inverno, o frio é muito grande... Pra voltar em outras estações a maior preocupação é a chuva. Vamos ver se tomo coragem e volto em outra época, quem sabe até pela portaria do Espirito Santo.

Detalhes para quem vai por conta própria:

- Entrada para brasileiros - 15 R$ (Julho 2016).

- Pernoite em barraca em qualquer um dos campings - 6 R$ por pernoite (julho 2016).

- Funcionamento do parque: de 7hs-18hs.

- É necessário fazer reserva pelo site (preencher um formulário) para finais de semana (incluindo sextas) e feriados.

- Para contratar o serviço dos jipeiros, ligar para a portaria do parque (32 3747 2086)  e pedir o telefone dos mesmos.

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