quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Chapada dos Veadeiros 23-07-16 a 1-08-16

Esse final de julho, parti para Chapada dos Veadeiros. Achava que faria muitas trilhas, mas a maioria das cachoeiras da Chapada são acessíveis por trilhas bem curtas, ainda que muitas vezes íngremes. Acho que a trilha mais longa que fiz era de 15 km ida e volta, algumas eram de 6-9 km ida e volta e a maioria era mais curta.

Peguei o avião Rio de Janeiro-Brasília às 16h45 do dia 22/07, a passagem pela Avianca (sem escalas e saindo do Santos Dumont) custou cerca de 350 reais, e comprei com 2 meses de antecedência.

Em Brasília, não tinha feito reserva prévia de veículo, imaginei que por se tratar de uma cidade enorme haveriam muitos carros disponíveis. 1a dica: reserve carro com antecendência. Quase não encontramos carro para alugar. Apenas duas locadoras tinham veículos relativamente simples, e nenhuma tinha os carros 1.0 que são os mais econômicos e que eu contava alugar. Conseguimos um Gol 1.6 na Movida por 148 reais a diária (O total saiu a 1480 reais, 740 reais para cada uma). Sem carro na chapada é complicado, As atrações não são próximas e não há transporte público desenvolvido. Muita gente alternativa e sem problema de tempo tenta a sorte pedindo carona para chegar aos atrativos ou se deslocar entre uma cidade e outra, mas é arriscado.

Pegamos a estrada por volta de 19h40. A ida para Alto Paraíso não tem sinalização alguma desde Brasília. Nada indica como chegar à Chapada dos Veadeiros. Só consegui me localizar graças ao Google Maps do celular. Acontece que fiquei rapidamente sem bateria, e tive que seguir minha intuição e ir parando em postos para perguntar (O GPS consome muita bateria).

Levamos pouco mais de 3hs para chegar, pois era de noite, havia pouca sinalização e eu não tinha idéia de onde havia pardais. A estrada é ótima, praticamente sem curvas, mas como mencionei, mal sinalizada nas bifurcações. 2a dica: vá com o celular completamente carregado e leve o cabo de carregamento do mesmo com o adaptador de isqueiro dentro do carro para que a bateria não morra no meio do caminho. Um aplicativo de GPS é muito importante nessa hora (claro, se vc tiver celular com plano de internet).

Na cidade de Alto Paraíso, ninguém sabe dar informação. Muitas pessoas que moram lá são de fora, e elas vivem em um universo paralelo, com uma noção de tempo e informação completamente diferente do que estamos acostumados. A maioria das coisas das quais você precisará nessa cidade se concentram na rua principal: supermercado, farmácia, lojinhas, restaurantes e Centro de atendimento ao turista (o CAT deles).

Ficamos em dúvida entre pernoitar só em Alto Paraíso ou dividir a estadia entre Alto Paraíso, São Jorge (mais perto do parque Nacional) e Cavalcante. A cidade de Alto Paraíso é bem mais estruturada, e ainda fica próxima da maioria das atrações. Contrariamente a Alto Paraíso que é asfaltada, São Jorge ainda é toda de terra, mas é lá que acontece a maior concentração de jovens, principalmente do povo alternativo. A grande vantagem de viajar pra lá nessa época é que ocorre nessa pequena vila o festival de encontro de culturas, com performances e produtos típicos de culturas minoritárias de diversas regiões do mundo. Se você é muito louco, gosta de locais bem rústicos, gosta de um fumo, de um cogumelo, de músicos independentes tocando melodias desconhecidas, de sovaco peludo e tudo que for mais alternativo possível esse é o seu lugar! Mas além disso, São Jorge encanta muito por seus artesanatos a base de pedras, bijuterias, pinturas, roupas artesanais e instrumentos rústicos. Não deixe de visitar a capelinha de São Jorge que é um mimo: tem teto interno recoberto de chita e paredes com mosaicos lindos! Acabamos nos fixando só em Alto Paraíso e visitando São Jorge em algumas noites, porquê minha amiga queria estar próxima de uma conhecida que mora em Alto Paraíso. Cavalcante é longe da maioria das atrações, e só vale para aqueles que desejam economizar combustível e explorar as redondezas. Da próxima vez que eu voltar, certamente reservarei alguns dias para explorar essa região toda.

Minha amiga e eu ficamos hospedadas em um hostel (Hostel Chapada dos Veadeiros), que mais parecia uma pousada pois tivemos quarto privativo com banheiro dentro. O hostel era ótimo embora bem simples: tinha cozinha, utensílios como panela, liquidificador, pratos, copos, talheres, pano de prato, geladeira, maquina de lavar e varal. A única coisa que o hóspede deve levar é sua toalha. A dona do hostel, a Liège, é um amor, super solicita e amável. Mas o preço da hospedagem era de pousada também, pagamos 150 reais a diária. Como passamos 10 noites no hostel, pagamos 1500 reais, ou seja, 750 reais para cada uma no total. Importante salientar que a nossa localização era excelente: estávamos bem no centro, na rua paralela à rua principal, com esquina à rua da farmácia. 

A maioria dos atrativos da Chapada é privada (entradas entre 20 e 35 reais), e só aceitam a entrada de visitantes até 12h-13h. Assim, muitas vezes, acaba que só é possível visitar uma atração por dia. Exceções são o Vale da Lua, Raizama, o complexo de Anjos e Arcanjos e as águas termais que ficam abertos até mais tarde. Não sei dizer como funcionam as atrações que não visitei, tais como Macacos, Lajeado, Poço encantado

Vamos à 3a dica: programe-se para conhecer os restaurantes que tiver vontade. Eles não ficam abertos o tempo todo. Alguns, como o delicioso e requintado Jambalaya, não abrem certos dias da semana (nesse caso o restaurante fecha às 2as) e só funcionam para o jantar (com exceção do domingo, dia em que o Jambalaya também abre no almoço). O Quiri Quiri, restaurante muito bem recomendado de hambúrgueres gourmets, só abre para o jantar. Por conta disso, acabamos não tendo oportunidade de conhecer. Levávamos lanche para o horário do almoço nas atrações e acabávamos fazendo um "almo-janta" por volta das 17hs-19hs. Muitos dias também, estávamos  cansadas e comíamos qualquer coisa que tivéssemos no quarto (bolo, pães, biscoitos).


O que fiz:

1o dia (sábado 23/07/16): Complexo Almécegas I e II com São Bento pela manhã até de tarde. 

O complexo é privado, não lembro a taxa de entrada, mas todos os ingressos eram no máximo 35 reais. Fica na fazenda São Bento, bem perto de Alto Paraíso, indo no sentido de São Jorge. Há restaurante na sede do local. Todas as 3 cachoeiras valem a pena, Almécegas I tem a maior trilha, mas ainda é curta, mas para mim, foi a mais linda e olhando ela, você sabe que chegou na chapada, pois ela é o tipo de formação grandiosa que caracteriza esse lugar enorme. São Bento é a que menos impressiona, mas tem um teto de pedra cobrindo parte do poço que cria um efeito de água refletindo na pedra muito legal.


Almécegas I.


2o dia (domingo 24/07/16): Loquinhas pela manhã e complexo da Cachoeira dos Cristais de tarde.  

As Loquinhas nos foi desaconselhada por um guia local, mas fomos mesmo assim pois as fotos e relatos que tinha lido eram ótimos. Não deixe de ir, mesmo na seca, pois ela é bem próxima de Alto Paraíso e a cor das águas é linda! A trilha violeta estava seca, e a outra trilha tinha os dois últimos poços secos. Ainda assim, curtimos muito! O poço Xamã foi o mais lindo, e o mais cheio, sendo o último com água, e que batia sol. Também gostamos muito do poço Curumim (que tem uma hidro gostosa, um tronco ótimo para as moças que gostam de "modelar" e um poço verde água lindo!) e do poço da Seriema. A caminhada se dá por um estrado de madeira que sobe suavemente, mas certos poços só são alcançados por escadas descendentes íngremes (ainda que curtas). O complexo é privado, não me recordo ao certo o valor da entrada (entre 20 e 35 reais).


Loquinhas: Poço Xamã (a água é mais azul que nessas fotos).
Loquinhas: diversos poços, o último sendo o Xamã.
Loquinhas: poço Seriema bom para hidro nas costas.

O complexo das Cachoeiras do Cristal é uma sequência de poços e quedas ribanceira abaixo que são bem legais, variando o tom das águas do amarelo ao verde, e também é privado. Fica bem perto da cidade, indo no sentido de Cavalcante. A última cachoeira, a Cristal propriamente dita, é a mais linda! Tem rochas de cores variadas fazendo um jogo de cores bem bonito. Na volta tem um boa subidinha. Ambos os locais (Loquinhas e Cristal) contam com restaurante no inicio da trilha.

Alguns poços e quedas do complexo cachoeira Cristal (última foto é da Cristal propriamente dita).


3o dia (segunda 25/07/16): Vale da Lua de manhã e Raizama à tarde. 

Pretendíamos fazer Vale da Lua e a trilha dos Saltos no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (CV). Esqueci que o parque só recebe visitantes até 12hs para entrada, e que também tem limite de pessoas. Para garantir a entrada, é importante fazer essa atividade primeiro, e de preferência, chegar cedo. Acabamos saindo do Vale da Lua quase meio dia. Tentamos ir a outras cachoeiras que queríamos, mas todas estavam fechadas para entrada. O Vale da Lua é um propriedade particular (entrada entre 20 e 35 reais, não lembro!) e é muito lindo, dá pra nadar por entre rochas distorcidas e ver tons de amarelo a verde nas águas, muito bacana. Acabamos tendo que ir ao Raizama, que não era um local que queríamos visitar de início. Não gostamos do Raizama, parecia um Vale da Lua piorado, já não batia sol à tarde e a entrada era de 20 reais. Não sei se na época de cheias fica mais impressionante, mas... Se tivéssemos ido ao Parque de manhã e deixado o Vale da Lua para a volta teria sido muito melhor e poderíamos ter visitado mais um atrativo em nossa viagem.

Vale da Lua (linha superior) e Raizama (linha inferior).
Poço do Vale da Lua.

4o dia (terça 26/07/16): Santa Bárbara e Capivara, dia inteiro.

Essas cachoeiras ficam bem longe. Se fosse escolha minha, eu teria saído para ir às 6h30, mas como fomos com guia, saímos às 9hs a pedido do mesmo (acho que a guia não gostava de acordar cedo). Quanto mais tarde se chega às cachoeiras, mais gente se encontra e eu odeio lugar cheio. A contratação de um guia é realmente importante para esse passeio, pois após chegar em Cavalcante, não há indicação alguma de como se chega à reserva dos remanescentes de escravos denominados Kalungas (que são os donos do território onde ficam as cachoeiras). A entrada é paga, e existe limite de 1 hora para permanência em cada cachoeira. É uma pena, pois, para mim, Santa Bárbara é a mais linda jóia da Chapada devido tanto à cor de suas águas azul turquesa, quanto de seu isolamento, e eu tive vontade de ficar lá o dia inteiro. Para chegar até ela após estacionar o carro, é necessário pegar um transporte 4x4 dos Kalungas que custa 5 reais para ir, e 5 para voltar. O custo do guia desde Alto Paraíso é de 150 reais a diária (disseram que é tabelado), e pode ser dividido por grupos de até 5 pessoas. O guia sempre vai no seu carro. É possível contratar guias só ao chegar na aldeia Kalunga, mas certamente você terá certa dificuldade pra chegar na reserva. Para entrar nas cachoeiras, a presença de um guia é obrigatória. São eles que controlam a permanência de 1 hora de cada grupo para não impactar muito no local.


Cachoeira de Santa Bárbara o poço anexo. que a antecede

A cachoeira de Capivara é bem legal, mas sinceramente, depois de ver a Santa Bárbara nada superou, na minha opinião. Antes de chegar à Santa Bárbara, passa-se por um poço menor lindo, no qual os guias não costumam deixar ficar. Uma pena, pois esse poço é muito mais vazio e seria bom aproveitar um pouco. Antes da cachoeira da Capivara também tem um poço clarinho lindo, logo antes da descida final, que vale a pena ficar um tempinho, mas onde os guias não param. Depois de voltar das cachoeiras, existe a opção de comer na casa dos Kalungas por 30 reais. Vale a pena, a comida é maravilhosa, aquela comida caseira cheia de sabor. No cardápio do dia, tivemos frango caipira, arroz, feijão, feijão tropeiro, abóbora, farofa tipo paçoca (típica deles), torresmo, aipim frito e salada. Dá pra repetir quantas vezes quiser! Quem for almoçar tem que encomendar antes de ir para as cachoeiras, mas paga só depois de comer. Acho que eles não aceitam cartão, eu paguei em espécie.

1 e 2- Cachoeira de Santa Bárbara; 3 e 4- Cachoeira da Capivara; 5-Almoço Kalunga.
Panorama da cachoeira da Capivara.
Poço antes de descer para a Capivara e o mascote do hostel: Orelinha.


5o dia (Quarta 27/07/16): Trilha do Parque Nacional da CV - Corredeiras e Saltos, dia inteiro.

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (CV) fica no final da cidade de São Jorge. A entrada, incrivelmente, é gratuita. O visitante só precisa assistir a um vídeo sobre o parque, sua preservação e suas trilhas e se cadastrar em uma ficha indicando a trilha que pretende fazer, o horário de entrada, o nome, seu celular, nome e telefone de um contato para emergência e número de indivíduos do grupo (com nomes e respectivos tels). As trilhas são muito bem sinalizadas e demarcadas, não é necessário guia, é só seguir a setas amarelas no caso dessa trilha. A portaria do parque tem bebedouro e banheiros com papel higiênico, mas não espere um folheto com o mapa das trilhas para o visitante. Eu fiz o caminho mais longo, andando um total de 15,5 km ao invés de 9 km se tivesse feito a trilha indo primeiro a Saltos e depois às Corredeiras. Depois que voltei, me foi dito que o caminho mais usual era ir para os Saltos 120 primeiro e passar nas corredeiras depois. pois existe um atalho na volta pelas corredeiras. 
Os Saltos são impressionantes, são duas quedas, uma de 120 metros a qual não vi acesso pela trilha, e outra de 80 m mais acima, que foi onde a trilha do parque desembocou. Mesmo não chegando ao maior salto, dá pra avistá-lo com seus 120 m de altitude, e é grandioso!
No salto de 80 m, a piscina formada em baixo da queda é muito profunda e a distância até a queda é enorme, inibindo a maioria dos visitantes a nadarem até a ducha. Essa trilha tem um grande desnível final, e é necessário andar por entre muitas pedras para chegar à beira da piscina com peixinhos gerada pela queda (machuca o pé descalço e é escorregadio para o pé com tênis). As águas são claras (amareladas) mas devido à profundidade e volume da coluna d´água o poço fica marrom escuro/verde musgo a uns poucos metros da beira que tem fundo de areia. Por conta dessa configuração, não achei a cachoeira tão interessante para banho. Ela é linda de se ver pois é muito grande.

Panorama do Jardim de Maytrea na estrada entre Alto Paraíso e São Jorge.

Saltos 120 e 80 no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Panorama do Salto de 80m.

As corredeiras são basicamente, uma parte do rio onde se acumulam uma multitude de piscinas naturais e pequenas quedas d´água permitindo massagear as costas, se duchar em cachoeirinhas e nadar nas partes de águas calmas. Explore o local, suba nas pedras pois só assim descobrirá as duchas e hidromassagens. A cor da água é amarela/marrom dependendo da profundidade e das pedras do fundo. As trilhas do parque são muito descampadas, então aconselho levar muita água e um chapéu, além de protetor solar. Vi muita gente passando mal de desidratação. Importante mencionar que o sinal de celular pega bem no parque.

1, 2 e 5 - Piscina das corredeiras; 3 e 4 - Quedas das corredeiras.
Panorama das corredeiras.
Panorama de uma pequena queda do lado superior das corredeiras.

6o dia (Quinta 28/07/16): Catarata dos Couros, dia inteiro.

Esse dia também contratamos um guia, uma vez que nos tinha sido dito que era uma trilha difícil de chegar. Eu, sinceramente, achei desnecessário a presença do guia. a trilha é intuitiva, ir descendo olhando o rio pelas pedras cada vez mais. As cataratas de Couros ficam em uma entrada da estrada voltando no sentido de Brasília a cerca de 30 km de distância. O complexo é incrível, a entrada é gratuita e muita gente acampa por ali. As piscinas e cachoeiras enormes vão aparecendo em degraus, uma coisa linda. Deixamos o banho na primeira cachoeira por último, para subirmos o final da trilha bem frescos. Lá embaixo, na 3a cachoeira, existe a possibilidade de descer e nadar na piscina de baixo para olhar a última queda do complexo. A guia avisou, mas acabamos sem tempo de fazer a exploração. Isso é um ponto chato dos guias, eles é quem determinam quanto tempo se fica em cada poço/cachoeira... Os caras querem chegar em casa até um certo horário, e para isso, não ficam muito tempo em cada local. Acho que o melhor é marcar bem cedo com o guia e deixar claro que querem passar bastante tempo em cada poço antes de fechar com a pessoa. Ali não há nada para comer, é bom levar bebida e lanches.

1a cachoeira de Couros.
2a cachoeira de Couros.
Panorama da 2a queda de Couros (Almécegas 100).

7o dia (Sexta 29/07/16): Trilha do Parque Nacional da CV - Cânions e Carioquinhas, dia inteiro.

Mais um dia no parque, gratuito. Fomos fazer a segunda trilha (a trilha de iniciante da Seriema estava seca, e a trilha da travessia das Sete Quedas exige de 2 a 3 dias acampando e minha amiga não estava na "vibe"). Fomos primeiro aos Cânions e depois às Carioquinhas. Essa é a trilha das setas vermelhas, super bem demarcada, isentando a necessidade de guia. Depois que se chega no Cânion, pode ser difícil encontrar a seta que manda continuar descendo as pedras até que os paredões do Cânion desembocam em uma grande piscina natural, mas olhe com cuidado que você encontrará. Dali, continuamos a trilha para as Carioquinhas, que se termina por um descidão. As carioquinhas são mais uma vez uma cachoeira de águas âmbares, com poço profundo e queda em formato de cascatinhas consecutivas sobre pedras assim como Almécegas II, e Couros.

1, 2 e 3 - Cânios; 4, 5 e 6 - Carioquinhas.
Panorama das Carioquinhas.

8o dia (Sábado 30/07/16): Cachoeira do Segredo, dia inteiro.

Chega-se à cachoeira do Segredo seguindo pela estrada de terra depois da entrada da vila de São Jorge. É muito importante saber duas coisas: 1- a entrada só é permitida até 13hs, 2- o ingresso (35 reais), que equivale a uma pulseirinha de acesso, deve ser adquirido na vila de São Jorge ao lado de um restaurante de massas tipo Spoleto. Todos na vila saberão onde fica.
A estrada de acesso ao Segredo é chatinha em alguns momentos, mas na época de estiagem é possível passar dentro dos rios com carros 1.0. O carro precisa cruzar o rio 4 vezes antes de chegar ao estacionamento mais próximo que fica a 3,6 km da cachoeira do Segredo (vai ter que caminhar muito mais se deixar o carro antes dos rios). Ali também não tem nada para comer, e a trilha é bem demarcada com seta nas pedras. Nada de guia, não caia na conversa de quem tentar lhe vender o contrário. A trilha cruza o rio sobre pedrinhas lisas inúmeras vezes. É uma trilha bem bonita, no meio de muita vegetação e ladeando um rio que varia entre amarelo e verde cristalino. Em um dado momento, se chega a uma piscina natural verde água translúcida cheia de peixes e pedras claras no fundo. Existem grandes estrados de madeira ali onde os visitantes tomam sol e deixam seus pertences. O lugar é lindo. Tome banho aí, tanto na ida quanto na volta, pois nessa época do ano, pelo menos, a cachoeira do Segredo não recebe nada de sol e suas águas de um verde profundo são gélidas.

Poço onde bate sol bom para banho na trilha do Segredo.
Panorama da piscina de águas cristalinas na trilha do Segredo.

Continuando a caminhada passa-se por um vale bem descampado antes de adentrar na mata novamente. De repente, quando menos se espera, surge ela, gigantesca e majestosa, a maior cachoeira que vi na Chapada, com 180 metros de queda. As parede de rocha que cercam a cachoeira parecem se fechar na parte de cima, é simplesmente incrível!

1- Poço no caminho do Segredo; 2 e 3 -Cachoeira do Segredo.

9o dia (Domingo 31/07/16): Complexo de cachoeiras do Macaquinho, dia inteiro.

Mais uma cachoeira pra a qual os guias disseram que era necessário a contratação dos seus serviços, mas que na verdade é tranquilo de se chegar sozinho. Essa cachoeira é pouco visitada, fica um pouco afastada (uns 45 km) indo no sentido de Brasília. Na verdade roda-se pouco em estrada asflatada, a maioria do trajeto é feita em estrada de terra boa, exceto pelos últimos 2 quilometros de descida. Não desça com o carro até o estacionamento do complexo a não ser que esteja dirigindo um 4x4, pois a última parte tem muita terra fofa solta dificultando muito a volta do carro que sobe a ladeira. Deixe o carro antes e ande um pouco mais e evite dores de cabeça com carro derrapando e atolando. A entrada é paga (se bem lembro era 20 reais), o local tem banheiro na sede e água filtrada a vontade. Não há lanchonete nem restaurante no local. O complexo do Macaquinho é composto por poços e quedas sucessivas oriundas do rio que tem o mesmo nome. A cor das piscinas vai do verde escuro ao amarelo claro, e tem muitos peixinho ali também. A trilha também segue o sistema de setas, e vai descendo. Vá para a última cachoeira, uma cachoeira em formato véu de noiva, e volte parando e se banhando nas demais quedas e poços ao longo do caminho para se refrescar e descansar da subida. Existe ali o poço do "jump" de onde algumas pessoas pulam em uma grande piscina profunda e verde, também há um poço reservado aos praticantes de nudismo e outra queda em degraus que tem uma enorme caverna lateral, logo antes da última cachoeira.

1 - Cachoeira da gruta (penultima da trilha) no complexo do Macaquinho; 3, 4 e 5 - Cachoeira do Encontro das Águas.
Panorama da Cachoeira do Encontro das Águas. (última da trilha).

Lista dos restaurantes que conhecemos:

1- Jambalaya - comida à la carte, pratos mais requintados. Comemos uma truta com molho de amêndoas, arroz com pesto e batatas rusticas. O prato estava divino e custou 46 reais. O restaurante é todo lindo, com um ambiente muito acolhedor que integra natureza e requinte com muito bom gosto. No cardápio haviam massas, saladas, carnes, frangos, saladas e sobremesa. Comi um torta gelada de chocolate com castanhas, que na minha opinião, deixou a desejar. O local não é fácil de encontrar, pois a partir da placa da estrada principal, passa-se por várias bifurcações sem indicação. Não está no centrinho da cidade. O prato que comemos estava maravilhoso, aconselho muito. Aceita cartão.

Truta ao molho de amêndoas, arroz com pesto e batatas rústicas.

2- Alquimia - comida vegetariana a quilo, o cardápio muda todo dia. Está sempre aberto, e o quilo custa cerca de 45 reais. A comida é muito gostosa, tem saladas, quiches, estrogonofes de soja, moquecas vegetarianas, arroz, feijão, farofa, macarrão alho e olho entre outros, mas o destaque foi para o couscous marroquino com castanhas de barú, que foi uma das coisas mais saborosas que comi na chapada. As sobremesas também são variadas e pareciam bem apetitosas. Fica na rua principal. Aceita cartão.

3- A Horta - Restaurante à la carte dirigido por um chef holandês próximo à rua principal, num ambiente encantador e muito bem projetado. Chão com pedrinhas, iluminação, jardim com fonte e lareira são algumas das atrações que conferem um charme único ao local. O destaque foi para o Biju adaptado com peixe empanado e legumes que estava leve e delicioso. o preço desse prato para duas pessoas era de 68 reais. Por se tratar de um restaurante novo, o chef é super atencioso, vem conversar com os clientes. Super aconselho. Aceita cartão.

4- La Vita e Bella - Restaurante à la carte situado na rua principal, cujo forte são as massas. Quem olha de fora não dá nada, mas as massas são deliciosas. Cozidas no ponto "al dente" e com diversas opções de formatos e molhos, aconselho muito o nhoque com molho de gorgonzola e nozes. A porção é bem generosa, dá até pra dividir com mais alguém, e o sabor é fantástico para os fãs do queijo e da crocância das nozes. Os preços são honestos e o atendimento bem legal. Aceita cartão.

5- Santo Cerrado Risoteria (em São Jorge) - Restaurante à la carte. Tem risotos muito bem servidos, mas o que eu realmente amei foram os medalhões de frango empanados (3 unidades) recheados com queijo e pesto, e as bruschetas. O ambiente é super charmoso, tem uma parte no jardim de fundos com mesinhas baixas e almofadas perto da fogueira que é imperdível para quem adora observar o céu noturno. Tem música ao vivo às 6as e sábados. Para chegar, é necessário seguir as placas de madeira e entrar na única rua cheia de velas no chão. Aceita cartão.

Acabei não indo a muitos outros restaurantes, soube que tem outras opções que valem a pena, mas o dinheiro contado e o cansaço atrapalharam.

A tapioca do Vale da Lua merece uma menção, pois custa 5 reais e é bem mais gostosa do que a que comi em Alto Paraíso.

O café da manhã é algo a parte pra quem se hospeda em hostel: nos horários antes das 9hs na cidade de Alto Paraíso, apenas a padaria do mercado fica aberta. A dica são os pães de queijo que custam 1 real cada 3 unidades. Mas se prepare, o atendimento é muito ruim, demoram séculos para atender, entregar e cobrar, e a padaria está sempre cheia. Tem mesinhas para sentar. Uma boa opção quando for fazer as trilhas do Parque Nacional da CV, é tomar café em São Jorge pois por ser a cidade na qual o parque está situado, existem diversas opções de café da manhã abertas bem cedo.

Quando ir:

Cada época tem suas vantagens. A época de julho te permite entrar nas cachoeiras que teriam um fluxo de água muito intenso para ficar em baixo da queda, te permite vivenciar o festival de culturas que é muito legal, tem dias ensolarados sem uma gota de chuva e não há risco de tromba d´água. Já na época de chuvas, talvez o inicio ou o fim desse período sejam os mais indicados pois as cachoeiras já recuperaram sua exuberância e as cachoeiras secas na época de estiagem agora ressurgem. A água das cachoeiras não chega a ser gélida, comparado com as cachoeiras de Itatiaia e Visconde de Mauá, achei a temperatura muito tranquila em julho. Parece que em agosto entram ventos bem fortes, o que pode prejudicar na hora de entrar e sair das cachoeiras (frio!).

Considerações finais:

1- É importante sempre fazer as trilhas mais frequentadas, tais como as trilhas do Parque Nacional CV e de Santa Bárbara, durante a semana para evitar aglomerações, e programar as mais distantes ou menos visitadas para finais de semana.

2- É legal conhecer pessoas e propor dividir um guia para baratear os passeios guiados. Nós fizemos isso, e acabamos conhecendo um casal de BH fantástico.

3- O que dizer das trilhas como um todo: a maioria é uma alternância de pedras lisas, pedras onduladas, terra solta e areia. Nenhuma tem um grau de dificuldade enorme, mas em geral, sempre apresentam um grande declive em algum ponto, pois é quando vão se formando as grandes quedas dos afluentes gerando belas cachoeiras. Isso pode cansar alguns andarilhos, mas a recompensa é gratificante.

4- Você vai sujar muito seus calçados e provavelmente perderá uma meia pelo menos. A terra entranha em tudo, inclusive nas unhas do pé, cabelos e poros. É interessante levar um sabão de côco para tentar dar uma melhorada em roupas muito sujas, principalmente se levar poucas roupas.

5- Em julho faz friozinho de manha e de noite, leve um único casaco básico quentinho que você estará coberto.

6- A farmácia só abre às 9hs. Leve um kit com os remédios mais importantes, inclusive sais de fruta, hepoclair e anti-gases pois uma comida e água local diferentes podem estragar seu passeio. Existe o Tom das ervas que vende plantas para chás medicinais. Fica do outro lado da avenida principal, no posto Vale da Lua.

7- Sempre li que os locais pela chapada não aceitam cartões. As entradas em cachoeiras, pagamento de guias e de alguns artesãos são, de fato, feitas em espécie. No entanto, restaurantes, postos de combustíveis e lojinhas aceitam amplamente os cartões. nosso hostel não aceitava cartão, mas aceitava transferência online. Na cidade existe caixa eletrônico do Banco do Brasil, da Caixa e acho que do Itaú (a confirmar). Não cheguei a usar, logo não posso opinar sobre o funcionamento.

8- Pra quem gosta de bike, tem uma ciclovia ótima na estrada principal, deve ser lindo fazer passeios de bike por la! Vi que em alguns locais alugam bikes.

9- Gostaria de ter ido a diversos outros pontos, mas alguns deles, como o Mirante da Janela e a Cachoeira do Abismo, por exemplo, não eram indicados pois a trilha era longa, sem sombra, e a cachoeira da trilha desaparece (seca!). O Rio do Prata e a Ponte de Pedra eram bem distantes e minha amiga não topou ir assim como o Terra Ronca. De qualquer maneira, eu precisaria de mais dias para fazer tudo o que gostaria. Isso me garante um retorno algum dia para conhecer os locais que não pude ver dessa vez.

10- Viajar em conjunto tem suas vantagens (custos divididos, companhia e partilha na tomada de algumas decisões), mas tem pontos ruins que podem ser mais evidentes quando o parceiro não é muito de alternar os privilégios (banhos, direção do carro), se for mandão, ou se não for muito flexível (não topa ir além de uma dada distância, não come em qualquer lugar, não topa acampar, não gosta de mergulhar e quer ir embora das cachoeiras rápido). O ideal é conhecer bem o companheiro de viagem e avaliar se a viagem em grupo trará mais dores de cabeça do que benefício, além, é claro, de saber ceder.