segunda-feira, 11 de julho de 2016

Subida do Pico da Bandeira 10-07-16

Mais uma trilha que queria fazer há tempos. Quando fui ao parque nacional do Caparaó uns amigos tiveram dengue e voltamos às pressas. Afinal, trata-se do 3o maior pico do Brasil com 2890 metros de altitude e não fica a uma distância tão grande do RJ.

O maior empecilho pra voltar ao parque e realizar a subida é que ele fica muito longe do Rio. são quase 500 km de distância até a portaria de Minas, sendo que carros levam 5-6 hs e ônibus quase 7 hs pra chegar em Alto Caparaó (cidade base do parque). Sou uma pessoa que sente muito sono, e dirigir de noite é um problema. O custo com gasolina e pedágio indo sozinha também inviabilizou o projeto por muitos anos, Por fim, vi a oportunidade de realizar a subida em um grupo de trilhas pagas. Abracei a oportunidade e pronto.

Aprontei a mochila em cima da hora. Não foi legal pois não achei minhas segundas peles e não tinha mais tempo de sair pra comprar nada. Levei barraca pra uma pessoa Mini pack da Azteq (muito boa pra travessias pois pesa menos de 2kg, tem resistência a 3000 mm de chuva, não é inflamável), isolante térmico, lanterna de cabeça (com pilhas extras), bastão de caminhada, cadeado, travesseiro inflável, uma muda de roupa, uma meia calça e duas calças legings para a subida, um fleece e um casaco 3 em 1 (fleece e corta vento que são separáveis), cachecol, luvas e gorro, papel higiênico, nécessaire, toalha de rápida secagem, 2 sopas Vono, castanhas, barras de cereal, maçã seca, dois sanduíches com pasta de atum, sacos extras para lixo e roupas sujas, talheres plásticos para camping, panela de alumínio para camping, protetor solar. Faltou um fogareiro, mas havia combinado de usar o dos colegas de trilha.

Chegando em Alto Caparaó, pegamos um jipe para nos levar até o primeiro acampamento do parque, a Tronqueira, de onde saía a trilha para o segundo acampamento, que era onde montaríamos as barracas e ficaríamos até a hora de subir a trilha. 

O trajeto Tronqueira-Terreirão é de 3,7 km. O primeiro quilômetro é puxadinho, o segundo é bem mais tranquilo e do terceiro para o fim é muita subida também. A trilha é completamente descampada, anda-se sobre muita rocha e pedrinhas soltas, são raros os trechos de terra batida...

Inicio da trilha Tronqueira-Terreirão
Quando avistar a sua esquerda a primeira queda d´água com poço ao longe, está chegando ao primeiro quilômetro, ou seja, as coisas vão melhorar em termos de subida. Passa-se por diversas quedas d´água ao longo do trajeto, mas não entrei em nenhuma pois não estava com roupa de banho, muitas desviavam do trajeto que eu tinha que seguir com o grupo, e estava bem frio. Tem um trecho lindo da subida no qual dá pra ver o tapete de nuvens tão característico que fica por lá um pouco abaixo do 1o acampamento (Tronqueira).

1a queda d´água
Trecho mais bonito da subida de Tronqueira ao Terreirão
Tanto nesse trajeto quanto na subida para o Pico da Bandeira, existem diversos caminhos abertos, quase paralelos, que levam ao mesmo destino. O importante é ficar atento às estacas de madeira com a borda pintada de amarelo ou azul claro, ou então às setas e marcações amarelas pintadas nas pedras. Na trilha do Pico da bandeira, a tinta é fluorescente facilitando encontrar o caminho, mas haviam trechos longos sobre rocha onde as sinalizações estavam espaçadas e era difícil saber se estávamos no caminho correto.

Quase chegando ao Terreirão, há uma placa indicando que faltam apenas 200 m para o acampamento, mas essa distância parece muito maior pelo fato de ser uma subida bem íngreme e de se estar com mochila cargueira.

O Terreirão é um espaço bem amplo, tem uma casinha para aqueles que não subiram com barracas (mas fica sujeita à lotação), tem a casinha dos guias do parque, tem algumas mesas com bancos de madeira, banheiros femininos e masculinos e por fim uma área para lavar as louças. A área de lavar louça tinha esponjas disponíveis e com cara de novas, assim como sabão de côco. Os banheiros só dispõem de dois chuveiros com água fria (deveria ter aquecimento solar, mas todas as vezes que fui ao parque estava sempre quebrado, e no entanto cobram entrada!) e a água é tão gelada que meu couro cabeludo ardeu durante 1 minuto depois de molhar e fiquei com dor de cabeça... Olha se for inverno não lave o cabelo à noite em hipótese alguma!! Os banheiros não dispõem de papel higiênico também, e os sanitários nem têm mais assento.

Visão panorâmica do lado direito do acampamento Terreirão
Chegamos por volta de meio dia e meio. Após armar a barraca e comer um sanduíche de atum que levei, dormi umas duas horas de tão cansada que estava antes de tomar banho. 

Minha barraca de menos de 2 kg (só cabe uma pessoa)
Fui ver o pôr do sol por volta de 17h15: junta todo mundo do acampamento pra assistir, o que é bem chato pra tirar fotos. Eu só estava com meu celular que tem um péssimo flash e sensibilidade noturna, mas tive a ideia de usar a lanterna pra iluminar meu rosto depois que o sol se pôs e deixou o céu com o horizonte laranja lindo. A água da torneira desse acampamento é boa para consumo, bebi a vontade (sem clorin) e nada de passar mal. 

Panorama do pôr do sol e amontoado de espectadores no Terreirão
Pôr do sol no Terreirão: início meio e fim
Comi duas sopas Vono e preparei um chocolate quente pra levar pro pico na garrafa térmica. Isso eram 18h30, coitada de mim que achei que a garrafa ía dar conta de manter o chocolate quentinho até o pico com o frio que estava fazendo.

Tentei muito dormir até 2h da manhã, que era o horário de saída combinado, mas tudo em vão. O frio era tanto, mesmo com meia calça, 2 calças legings, 2 meias, fleece, luva, gorro, isolante e saco de dormir 0oC que foi impossível. Meu pescoço doía muito por estar encolhida, mesmo com o travesseirinho.

Às 2h em ponto, saímos rumo o cume. A trilha de 3,2 km é muito íngreme, passa por uns paredões de rocha a 45o dependendo do caminho/bifurcação que se pega, e exige excelente preparo físico. Fiz em 2h30, e os mais lentos do grupo fizeram em 3h40. Não aconselho sair 2hs. Acho que sair às 3h é mais sensato pois o frio que faz la em cima é impraticável e o sol só nasceu por volta de 6h20. Tivemos que esperar duas horas que foram as mais sofridas da minha vida. Tentei me abrigar entre algumas rochas, mas o local estava apinhado de gente que já tinha pego os melhores refúgios... O jeito foi tentar pedir para os colegas ao lado se aglomerarem o máximo possível. Foi muito duro... O vento criou uma sensação térmica realmente muito pior do que os graus negativos que estava fazendo lá em cima. Pra subir com saco de dormir, mantas etc, você acaba levando muito peso numa subida bem puxada. Tentei beber meu chocolate quente, mas estava frio. O topo estava bem cheio, e a disputa por fotos foi grande. Difícil conseguir bater uma boa foto sem ninguém ao fundo.

1- De noite no frio, 2- Horizonte começando a clarear, 3- O sol nascendo, 4- Sol da manhã aquecendo
Babando no sol

Assistimos finalmente ao nascer do sol, e quando o sol raiou de vez, foi um alivio sentir o calor no rosto e corpo!

Cume do Pico da Bandeira (2890 metros)  depois do amanhecer

Voltamos umas 8h30, e percebi que tinham muitos caminhos pra chegar lá no topo, e que pegamos alguns dos mais íngremes sem enxergar muito bem, A descida exige dos joelhos, me lembro de pensar o tempo inteiro que não podia torcer o pé. 

No acampamento, fui direto tomar banho, quase tive um choque térmico ao lavar o cabelo, e daí comi mais um sanduíche de atum e fui desmontando tudo e arrumando a mochila. Saí antes do grupo pois sabia que teria que ir devagar por conta do meu joelho. O sol castigou na descida, estava bastante cansada.

Na cidade, almocei num buffet que era 15 R$ a vontade, em um restaurante quase em frente à sorveteria da praça principal. Lá não tem muitos restaurantes. Esse em particular tinha pouca opção, mas deu pra matar a fome com um prato de arroz, feijão, batata frita, e macarrão com molho de tomate. Tinha coxa de frango ensopada, carnes e lasanha a bolonhesa, mas eu não como carne nem coxa de frango.

Esperando o grupo todo descer e almoçar, só saímos do Caparaó às 14h40, e chegamos no RJ às 22h30. 

No dia seguinte, minhas pernas estavam tão doloridas que ficou difícil descer escadas, mas estou feliz! mais uma trilha feita e um lugar lindo que conheci.

Agora que subi, não sei se voltaria no inverno, o frio é muito grande... Pra voltar em outras estações a maior preocupação é a chuva. Vamos ver se tomo coragem e volto em outra época, quem sabe até pela portaria do Espirito Santo.

Detalhes para quem vai por conta própria:

- Entrada para brasileiros - 15 R$ (Julho 2016).

- Pernoite em barraca em qualquer um dos campings - 6 R$ por pernoite (julho 2016).

- Funcionamento do parque: de 7hs-18hs.

- É necessário fazer reserva pelo site (preencher um formulário) para finais de semana (incluindo sextas) e feriados.

- Para contratar o serviço dos jipeiros, ligar para a portaria do parque (32 3747 2086)  e pedir o telefone dos mesmos.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Circuito W (Torres del Paine-Chile) Novembro 2015

Esse mês de novembro, me inscrevi para participar de uma expedição com um grupo de "trilheiros" que nunca tinha visto para conhecer as trilhas da Patagônia. Havia estado na Patagônia Argentina com uma amiga em 2011, e nessa época fiquei sabendo que existiam diversas trilhas por lá, além de um parque nacional lindo no Chile chamado Torres del Paine. Fique chateada de não ter me informado antes e descoberto os parques nacionais, mas a viagem foi organizada de improviso em cima da hora do carnaval, e prometi a mim mesma que voltaria para fazer as trilhas.

Dia 13 de Novembro, estava eu saindo rumo à Patagônia. Os vôos para Argentina são terríveis, fui de Aerolíneas Argentinas para El Calafate, e cancelaram meu vôo me deixando de molho em Buenos Aires horas antes de chegar ao destino final. A parte boa é que o aeroporto dispõe de plataforma para carga de celulares com entrada USB além de internet Wi-fi gratuita. O lanche da companhia é até bem servido se comparado às nossas cias aéreas: 1 a 2 sanduíches de pão de miga (pão de forma sem casca) com presunto e queijo além de um mini alfajor com uma bebida, e todos eram dados em vôos com 3 horas de duração.

Em El Calafate ficamos hospedados na 1a noite no Hostel del Glaciar Libertador. Paguei 85 reais a diária (sem Café!), mas o quarto era quadruplo com 2 beliches, sanitário e ducha em mini portinholas separadas no próprio dormitório. Foi minha 1a experiência em hostel. Achei incomodo estar com gente que nunca vi principalmente pra usar o banheiro, falar no skype em chamada e acordar cedo e não poder fazer barulho. Também me desagradou o fato de que o hostel não fornece toalhas de banho. Só nos dão fronha e roupa de cama e nós mesmo precisamos fazer a cama. O Hostel tem Wi-fi, e um computador com internet, mas achei o atendimento muito ruim! A ducha do nosso quarto quebrou duas vezes... Enfim... Como El Calafate é uma cidade extremamente cara, ali foi o lugar que deu pra pagar. A parte boa é que a rodoviária fica acessível a pé, existe um mercado relativamente perto, uma loja tipo essas de conveniência de posto de gasolina (mas essa em questão é na rua mesmo) a poucos metros do hostel e uma padaria (muito boa) a umas três quadras andando para a direita (para quem está de costas pra porta de entrada).

Meu hostel em El Calafate
Padaria perto do hostel

Tudo nessa cidade é absurdamente caro, inclusive barras de chocolate que custavam no supermercado cerca de 10 reais! Cada almoço e janta custava cerca de 100 reais, e os pratos são bem limitados. Todos os dias a comida era uma cesta de pães com a textura do nosso pão de batata (bem pesado), e carnes/aves ou peixe com 1 só acompanhamento, que geralmente é batata frita. Pode ser batata de algum outro tipo ou salada, mas nunca arroz, feijão, legumes, quinoa, ou uma mistura de mais do que um acompanhamento. Eu não como carne de boi, mas dizem que nessa região, carne de boi e de cordeiro são fantásticas. O frango desse lado da patagônia, só é preparado na chapa ou a milanesa... Acho que o "milanesa de pollo" é uma das especialidades deles, e sempre com maionese kkkk. A bebida, eu tomava água com gás mesmo, e acreditem, apenas uma refeição dessas dava por volta de 100 reais! Resultado: geralmente só almoçava ou só jantava e na outra refeição comia um lanche tipo empanada ou sanduíche, um chocolate ou ainda castanhas que trouxe comigo do Brasil. Existem diversos caixas eletrônicos em bancos da rua principal que te permitem sacar dinheiro em moeda local caso tenha desbloqueado o seu cartão de débito e te cobram, além do IOF, uma taxa do banco estrangeiro. Outra possibilidade que estava saindo bem mais em conta era a troca de dinheiro nas lojinhas da cidade, especialmente uma lojinha dentro de uma mini ruela de lojas e bares que existe por là. Não sabia que era tão fácil trocar reais, por isso não levei dinheiro em espécie, mas tudo o que levei, preferi trocar pois a taxa estava muito vantajosa. Cada real era trocado por 3,40 pesos argentinos nessas lojinhas, enquanto o cambio oficial era de 2,40 pesos. apesar de ser um país vizinho, quase ninguém troca peso argentino ou real por peso chileno, e quando alguém faz a troca, a taxa de câmbio é muito desvantajosa. Na duvida, melhor desbloquear o cartão de débito e levar bastante real.

Nosso próximo destino seria a cidade de Puerto Natales. ônibus pra là é super concorrido, só sai um por dia, por isso aconselho comprar antes. Encontrei alguns sites que oferecem esse itinerário, mas eu tomei mesmo o transporte na rodoviária (Todo Calafate, Interhabit, Busur, Zona Austral) O horário do ônibus era 16h30.

Rodoviária de El Calfate

Os ônibus são bem pontuais, saímos 16h30 e chegamos em Puerto Natales por volta de 22h. Uma das partes mais chatas é que é necessário fazer o registro de saída da Argentina e de entrada no Chile. São duas aduanas distintas, bem arcaicas, o que retarda a liberação dos viajantes. Algo muito importante é que o Chile é paranoico em relação a entrada de comidas, sementes, ou qualquer coisa que possa cair no solo deles, ser semeada, trazer pestes e acabar com os seus famosos vinhedos. Por isso, trilheiros de plantão, não levem nenhuma comida para o Chile, e se tiverem algo nas bagagens declarem para que não sejam multados com taxas altíssimas. Nessa entrada do Chile, são utilizados cães farejadores. Os cães farejaram cheiro de frutas na minha mochila cargueira pois o meus sabonete liquido tinha vazado, deu o maior trabalho, tive que abrir a mochila e tirar coisas de dentro, um saco... Chegando em Puerto Natales ficamos no hostel Lili Patagônico's que eu achei bem melhor que o de El Calafate. Os quartos eram bem mais confortáveis apesar de não terem banheiro dentro. Esse hostel possui 3 banheiros bem melhores do que o do hostel anterior, as camas já vem preparadas e existe uma camareira que arruma as camas! O café, apesar de muito ruim, também é incluso. A cidade de Puerto Natales é bem simples, todas as casas que eu vi lá pareciam feitas de latão ou madeira estufada de última categoria. Se for necessário comprar algo para as trilhas, desde calçados, meias, gorros, roupas, ou até mantimentos, faça-o nessa cidade pois no parque nacional não tem lojas nem supermercado, apenas alguns chocolates e biscoitos a preços superfaturados nos abrigos das trilhas.

Reservamos um dia em Puerto Natales para comprar os mantimentos já que não era permitida a passagem entre Argentina e Chile com alimentos. Como eu remo caiaque no RJ, fiquei de olho nos passeios de caiaque que vi pela Patagônia. Só dispondo desse dia livre, consegui agendar um passeio no lago Grey do parque nacional Torres del Paine. O passeio foi absurdamente caro, e olha que consegui um desconto de 50%! Consegui um acordo entre o pessoal da Swoop Patagonia e da Tu Travessia para fazerem o roteiro de 1 só dia. Não teve jeito, eu precisava muito conhecer a Patagônia pelo ângulo do caiaque. Choveu e ventou bastante nesse dia, além de fazer muito frio, o que dificultou muito a remada. Mas pude tocar em icebergs e ter uma visão do rio Grey, além de uma remada com visual incrível da cordilheira. Tive que entrar num roupa totalmente estanque e só ficava pensando como seria cair naquela água cheia de icebergs com aquele vento e chuva...



Nas fotos: 1. chegando no lago Grey, 2. Ao lado de um iceberg, 3. Rio Grey

No dia seguinte, às 7h30, mais uma ônibus que precisa ser reservado com antecedência: o ônibus de Puerto Natales para o parque nacional (infos sobre passagens aqui e aqui).

Antes de ser admitido em qualquer parque do Chile ou Argentina, é necessário assistir a palestras educativas sobre a preservação do parque, das plantas e animais, as regras e penalidades para as infrações. Houve um incêndio enorme em Torres del Paine faz pouco tempo por uma queima de papel higiênico, e isso destruiu uma grande parte do ecossistema.

Depois do ônibus, ainda é necessário aguardar um barco que atravessa o Lago Pehoe que, na época em que fomos, só saía meio dia em direção ao inicio da trilha no refúgio Pehoe. Atentar para os horários que mudam dependendo da época do ano (ver site no fim do post). A passagem é comprada dentro do "ferry".

Existe uma outra portaria desse parque, a portaria de Laguna Amarga, que pode ser acessada por transporte rodoviário e tem um lindo hotel cinco estrelas (hotel Las Torres) na sua base, mas como nós escolhemos começar o trajeto do W a partir do refúgio Pehoé, optamos pela 1a portaria. O W pode, portanto ser feito a partir de qualquer portaria, sendo que o sentido de caminhada eordem de visitação de cada atração são diferentes.

Mapa do circuito W - Torres del Paine
O Primeiro de trekking dia foi rumo ao camping Grey. Foi um dia relativamente tranquilo. Algumas subidas, algumas descidas e bastante parte plana. Muitos visuais de tirar o fôlego. Demos muita sorte pois só pegamos tempo chuvoso brabo um dia de toda a viagem, e foi antes de começarmos as trilhas. O vento, no entanto, se fez presente em diversos momentos: é muito forte, e nos foi dito que pegamos um vento leve para o que é normal na Patagônia!

Quando nos acomodamos nas barracas, fomos direto por um caminho de mais 10 minutos, até o ponto mais próximo onde podíamos avistar a geleira do glaciar Grey. Tem um outro serviço de caiaque neste local, o Big Foot, mas o último passeio sai às 18hs e a gente chegou là depois disso. Comemos no abrigo, mas geralmente só tem uma opção de refeição. Chame o garçon e perturbe se for vegetariano que eles vão dar um jeitinho.


Estação para pegar o barco/ferry do lago Pehoe


Visual de lagos no 1o dia de trilha 
Pedaços de gelo desprendidos da geleira
Fim da trilha do 1o dia: Glaciar Grey

Acordamos cedo no dia seguinte, tomamos café, banho (existe horário de banho quente acho que era de 7h às 21h) e levantamos acampamento pois seria um longo dia. Voltamos tudo o que fizemos no dia anterior (ou seja, se olhar no mapa, a pernada entre Grey e Pehoe), e ainda andamos até o refúgio Los Cuernos, umas 10hs andando se for em ritmo lento e parando. Esse dia foi longo e pesado, o refúgio parecia não chegar nunca. Durante o trajeto, percorremos trechos de muita pedra pequena solta forrando o solo, além das tradicionais descidas e subidas, e os pés e joelhos sofreram. Em um dado momento, passamos por um descidão que pode ser feito por dois caminhos, um que tem placas de ferradura (que é mais íngreme, curto e feito para cavalos) ou de sola de sapato (mais longo mas mais fácil de percorrer, feito para pedestres).

Café da manhã no refúgio Grey
Saindo do Refugio Grey


Trilha do 2o dia com lagos e picos nevados ao fundo
Terreno com rios gélidos e muitas pedras soltas

Passamos por umas praias de lago lindas e mesmo com o frio desgraçados, alguns dentre nós (eu me incluo) resolvemos pular na água gélida. Se prepare, pois as pedrinhas machucam os pés e a água é de doer o osso. Entrar foi revigorante, mas sinceramente com o vento que estava, foi cruel chegar até o camping, até porquê pegamos uma chuva fina e constante nessa hora.

Praia de Lago glacial pouco antes de chegar ao abrigo Los Cuernos

Tomamos banho e fomos mais uma vez jantar no abrigo, mas dessa vez o Los Cuernos. Chegamos com as pernas destruídas... Quando paramos, sentimos a musculatura toda dolorida, tão dolorida que ficou difícil até andar, quem dirá levantar e sentar.

O refeitório desse abrigo é bem aconchegante, tem calefação, vende-se vinho, fica bem cheio, e tem hora agendada para cada grupo fazer as refeições.

Os banheiros ficam numa casinha separada a algumas dezenas de metros do refeitório (mas tem uma "mutreta" de um banheiro dentro do refugio que em princípio não é para quem está no camping usar), têm água quente, todavia estão constantemente com ralo entupido. Não há um lugar adequado para colocar a "necessaire" e as roupas limpas, e os sanitários são portas dentro do cômodo aberto que constitui o banheiro (todo mundo sente o cheiro de quem está mandando um número 2).

O visual desse camping é lindo, ele fica bem no alto e tem muitas flores vermelhas e montanhas ao redor contrastando com o azul turquesa das águas glaciares dos lagos ao fundo.

As barracas ficam espalhadas por diversas áreas picotadas ao redor do refeitório, e ficam montadas em cima de um estrado de madeira. Venta muito nesse camping e as roupas úmidas estendidas secaram bem.

Barracas alugadas e montadas no refugio Los Cuernos
Refeitório do refúgio Los Cuernos
Visual do refúgio Los Cuernos: flores vermelhas, verde da mata branco dos picos nevados e azul do lago

O 3o dia de trilha, foi dedicado a conhecer o Vale e o Mirante do Francês. Para chegar lá, uma vez mais, foi preciso refazer parte do caminho já percorrido, incluindo as praias de lago e o acampamento Italiano (é gratuito, mas sem estrutura). Depois desse ponto, pegamos um trajeto ainda inexplorado por nós o Vale do Francês.

A trilha estava muito congestionada, inclusive com idosos europeus. Ela é bem íngreme, e nesse caso vale o uso do bastão de trilha. A maioria dos idosos só foi até o primeiro "plateau" do vale. Nesse ponto, começou a nevar bastante, e já não tinha mais quase ninguém na trilha. No ponto final da trilha, é possível avistar diversos maciços nevados em frente e, em alguns momentos, ouve-se pequenas avalanches.

O agregado de rochas no topo oferece um abrigo parcial do vento que permite reabastecer as energias fazendo um lanche.

Na volta pegamos chuva, e pela segunda vez chegamos com as pernas tão destruídas o quanto no dia anterior. Tomamos Dorflex, mas não adiantou muito...

Los Cuernos ao fundo, caminho com terreno muito pedregulhoso
Voltando o caminho pela praia do lago
Passamos por quedas d´água, sempre fontes para encher os cantis
Muita subida
Chegando ao primeiro plateau do Mirante do Francês
Neve no Vale do Francês
Cadeia de montanhas ao fundo do segundo plateau do Mirante do Francês

Descendo o Vale do Francês, o sol abriu!

No 4o dia de caminhada, levantamos acampamento cedo e partimos rumo ao Refúgio/camping El Chileno. Andamos bem, inclusive por alguns trechos acharcados, mas o duro mesmo foram as subidas finais, em um chão arenoso no qual os pés acabavam sendo engolidos pela terra fina, o que dificultava muito a caminhada com o mochilão. Chegamos relativamente cedo, e depois de largar os pertences nas respectivas barracas alugadas, arrumamos as mochilas de ataque e partimos rumo às Torres, nosso atrativo final.

Refúgio Chileno: barracas, cavalos e margeado por um rio
Toda a altimetria desde o refúgio Chileno até o Mirante das Torres

Essa trilha é bem legal, sobe aos poucos e passa por diferentes terrenos e ambientes. Começa com uma floresta fechada, passa por uma floresta mais aberta e por fim, chega a uma longa subida cheia de pedras, riachos e arbustos (sempre tem lugar pra reabastecer o cantil) e termina com rochas desnudas cobertas de neve num terreno onde venta muito e faz frio demais. Não vou mentir, esse trecho final é bastante chato. Nessa parte onde só há rochas, é importante prestar atenção nas pedras que estão pintadas pois elas indicam o caminho a seguir. A recompensa ao chegar ao topo, é um lindíssimo lago repousando ao pé das Torres...

Essa trilha também é bastante frequentada, apesar de ter um fim é bem cansativo. Acho que é a trilha mais popular do parque por chegar em uma montanha bem acidentada com um lago ao seu pé.

Na volta é preciso ter calma pois o declive é grande. Acredito que seja possível fazer essa trilha a cavalo pois no refúgio tem muitos deles.

Os banheiros desse refugio são mais apertados e menos arrumadinhos, mas estão organizados em cabines individuais unissex que têm chuveiro e vaso sanitário (alguns têm espelho).

O refeitório é bem semelhante aos demais em termos de aparência, mas tem lareira, e serve a comida mais farta e o melhor cardápio de todo o circuito W. Tivemos direito a nos servir à vontade de saladas, feijão fradinho, além dos pratos principais e sobremesa, regalia que não tivemos em nenhum dos demais refúgios.



O grupo com as Torres ao fundo
Após passar a noite na barraca alugada do refúgio Chileno, arrumamos as mochilas e partimos rumo à portaria Laguna Amarga. Ao chegar perto do hotel cinco estrelas Las Torres, é possível pegar um transporte, mas o mesmo só sai em horários pré-determinados bem espaçados. Decidimos ir a pé pela estrada até a portaria (mais uma bela caminhada), e tivemos que esperar bastante até o nosso ônibus de volta para Puerto Natales chegar. Nesse ponto de ônibus rústico de Laguna Amarga faz muito frio.

Hotel Las Torres na descida
Andando na estrada entre o parque e o ponto de ônibus na portaria Laguna Amarga

É muito importante usar sapatos confortáveis, especiais para trilha e que já tenham sido amaciados antes.

Como tem muito terreno com pedras soltas, aconselho o uso de uma bota para evitar torções. Ainda assim, meus colegas que estavam usando bota ficaram com os pés estraçalhados, unhas encravadas, bolhas (alguns estavam com calçado recém adquirido). Eu tenho muita tendência a torção de pé, e essas trilhas de Torres del Paine têm muitas pedras soltas que propiciam virar o pé e machucam a planta dos pés quando o solado do calçado não é rígido suficiente. Fui com meu tênis de trilha pois não estava com dinheiro pra investir numa bota de cano alto, e daí, acabei torcendo meu pé 3 vezes... Só não foi pior porque enfiei o pé imediatamente dentro da água congelada dos rios da região (descida do vale do francês) imediatamente evitando uma inflamação pior. Vou juntar "dindin" pra comprar uma bota, definitivamente. Acho importante frisar, no entanto, que o tênis é muito mais leve e confortável: todos os meus colegas de trilha tiveram muitas bolhas nos pés e sentiram muito cansaço devido ao peso das botas, o que quase inviabilizou a caminhada, enquanto eu terminei o circuito com o pé super tranquilo, sem bolhas. Dei sorte que não choveu... meu tênis não era impermeável mas as botas deles sim. Como chove muito na Patagônia, é bom que o calçado seja impermeável. Nada pior do que um pé molhado num local onde chove muito (as meias e o calçado não irão secar) e com temperaturas muito baixas (o pé molhado no frio vai resfriar o corpo todo), pode dar hipotermia, pneumonia e resfriados pesados inviabilizando a continuação da viagem.

Outro comentário: consegui suportar o frio noturno na barraca com um isolante térmico e meu saco de dormir de 0oC, mas tive que dormir de casaco polar e calça de fleece. Talvez fosse mais aconselhável levar um saco -5oC para garantir, principalmente se o tempo estiver mais chuvoso e com ventos mais fortes do que quando fomos, mas assim como no caso da bota, quanto mais frio o saco aguentar, mais caro ele é...

Não usei clorin em nenhum trecho e bebi água dos rios o tempo todo, a água é super pura!

Infos importantes:

- Entrada no parque Torres del Paine para estrangeiros: era 18000 pesos chilenos (CHP) em espécie. Agora parece que os preços mudaram (21000 CHP). Verifique no site do parque, há diferenças de preço entre alta (outubro a abril) e baixa (maio a setembro) temporada. É possível entrar gratuitamente no parque antes e após o horário de abertura e fechamento. No entanto, a taxa de entrada é usada para a preservação do parque.

- Estadia nos campings com refúgios: 5000 CHP por dia se marcar com antecedência, 10000 se chegar e pedir estadia na hora (verificar aqui e aqui se os preços mudaram, os valores diferem de acordo com o refúgio).
Existem campings gratuitos sem estrutura de apoiso no parque. Para ficar lá, é preciso levar nas costas barraca, fogareiro e outros equipamentos necessários durante todo o percurso.

- Aluguel de barraca para 2 (já montada): 15000 CHP por noite (verificar aqui e aqui se os preços mudaram, os valores diferem de acordo com o refúgio).

- Aluguel de saco de dormir: 10000 CHP por noite (verificar aqui e aqui se os preços mudaram, os valores diferem de acordo com o refúgio).

- Aluguel de isolante térmico: 3000 CHP por noite (verificar aqui e aqui se os preços mudaram, os valores diferem de acordo com o refúgio).

- Refeições nos refúgios (pensão completa): 28000 CHP por dia. As refeições podem ser compradas separadamente (verificar aqui e aqui se os preços mudaram, os valores diferem de acordo com o refúgio). Nosso grupo comia chocolates, castanhas e barrinhas durante o dia e tomava um café da manhã e um jantar fartos no refúgio.

- Ônibus para o parque saindo de Puerto Natales ou Punta Arena: aqui

- É possível carregar os celulares e maquinas nos refúgios contanto que fique na fila e que disponha de um adaptador! A dica seria levar um carregador portátil, desses que ligam a um fio USB e carregam seu celular ou maquina Gopro.