domingo, 10 de agosto de 2014

Começando - Pedra Selada - Visconde de Mauá

Estudei em um colégio estrangeiro, por isso acabei sem muitos amigos na minha cidade, todos voltaram para seus países de origem. Tem também o fato de que crescer é complicado, a gente tem que ganhar dinheiro, fazer supermercado, arrumar casa, fazer comida e acaba cansado e sem tempo pra sair. Trabalho bastante, numa área complicada, que é a pesquisa em biologia, e hoje em dia, faço menos aventuras do que gostaria. Muitas vezes me sinto frustrada por não conseguir juntar mais dinheiro e não conhecer gente tão aventureira quanto eu disposta a armar viagens de desbravamento, e por ser mulher, é sempre mais complicado sair sozinha pelo mundo, mas as coisas precisam mudar! Tem momentos da vida da gente que são particularmente complicados, verdadeiras provas de vida, e estou justamente atravessando um destes. Nada melhor do que um momento como esses pra começar um projeto.

Fora isso, um amigo muito querido que tem o mesmo ímpeto que eu por viagens (mas viaja com a namorada) está viajando pela Turquia e ainda vai fazer uma viagem dos sonhos com os amigos em um veleiro pelas ilhas gregas. Ele trabalha em uma empresa legal, ganha um salário bom, tem férias de um mês garantidas, e tem companhia pra viajar. Isso me fez voltar a sonhar em retomar meus projetos de explorar o mundo, trocar experiências e dicas com quem tem tanta sede de mundo quanto eu, e quem sabe angariar uma galera legal pra viajar por aí... É tanto lugar pra conhecer, e tão pouco tempo e dinheiro ahhhhh!!!!
Faz tempo que não faço uma dessas viagens muito empolgantes, mas hoje resolvi começar meu projeto de relatos das pequenas viagens de aventura que faço, que hão de se tornar grandes.

Começo com o relato da subida da Pedra Selada, em Visconde de Mauá aqui no RJ. Toda vez que ía a Mauá, sempre ouvía falar da Pedra Selada, queria subir, mas acabava não subindo. Dessa vez não arredei o pé, subi, mesmo sabendo que, muito provavelmente, chegaria ao topo e não veria o tão esperado visual que eu almejava, já que o tempo estava começando a mudar e as nuvens já chegavam ao topo da Pedra. Não, a subida não podia ser adiada mais uma vez!! E vamos ao relato.

O início dessa trilha começa no sítio de um senhor chamado Alcebíades. Pra chegar lá é necessário passar pela vila de Visconde de Mauá, que é do lado oposto de Maringá e Maromba. Chegando em Mauá é só seguir reto por 12-13km numa estrada de terra em bom estado, passa-se por diversas pousadas como a Mauá Brasil, a Fazenda do Mel, e a Terras Altas. Em um momento chega-se a uma placa, escrita com tinta branca "Pedra Selada", que direciona para uma bifurcação à sua direita.
Daí rapidamente se chega ao rancho do seu Alcebíades (eu cheguei cerca de 13h). Para percorrer a trilha, paga-se uma taxa de 8 reais por pessoa (2014), o que inclui manutenção da trilha e utilização de um banheiro bem modesto no casebre do rancho. 
Seu Alcebíades diz que o trajeto leva 1 hora para ser percorrido, mas subi em 2hs, fazendo umas 6 paradas rápidas e descendo pra dar uma olhada em duas cachoeiras que existem no caminho.

Com a Pedra Selada ao fundo, no rancho do Sr. Alcebíades

 O pico da Pedra Selada é o mais alto da região de Mauá e fica a 1755m de altitude. A trilha é bem íngreme, tem uma extensão de 2750m de comprimento, mas pode ser feita por qualquer pessoa pois não apresenta nenhum trecho de abismo ou escalada e oferece bancos de madeira ideais para os mais sedentários. Claro que é uma trilha cansativa, mas nada impossível para os não-trilheiros, contanto que disponham de paciência e boa vontade. Durante todo o percurso existem marcos de metragem que aparecem de 250 em 250 metros (andando em subida, 250 metros parecem ser bem mais do que isso) e darão um certa noção de quanto do trajeto falta a ser percorrido. Como na maioria das trilhas um pouco mais demoradas, levar água é fundamental e protetor solar e agasalho são aconselháveis.
O início da trilha se dá por um pasto em subida no qual estão vacas e cavalos. Em pouco tempo chega-se a uma curta descida bem íngreme que leva a uma pequena queda d'água boa pra se refrescar no verão.

Primeira queda d'água (descida íngreme).

Depois dessa queda d'agua, os únicos trechos planos aparecem. A segunda queda d'água não fica muito longe da primeira. Como o dia já estava encoberto (em Mauá, assim como em muitos lugares com cadeia de montanhas o tempo costuma fechar depois do almoço), as cachoeiras não estavam de fato muito convidativas, mas valeu uma parada pra apreciar e molhar o rosto. 

Segunda queda d'água do percurso.
A trilha se acentua muito quando se chega a uma bifurcação que tem uma seta amarela indicando uma subida a esquerda. A trilha principal parece continuar reto, mas é preciso seguir a seta amarela. Depois desse momento, existem dois trechos que necessitam de ajuda de uma corda que fica ali, não por oferecerem perigo, mas sim porquê o desnível do degrau de terra é muito grande. A perna vai sofrer um pouco e a mão vai, provavelmente, ficar suja de terra. Finalmente, chega-se a uma placa indicando que faltam apenas 100 metros. É mentira!!!! Ainda andei um tanto antes de chegar no cume!
O fim da trilha é feita sobre a pedra que é uma das pontas da Pedra Selada. Infelizmente, quando cheguei ao cume, o tempo estava todo encoberto e não dava pra ver a vista que todos relatam. 

No cume, tudo encoberto.
Mesmo sem visual, fiquei satisfeita por chegar lá!
Mesmo sem visual, a sensação de conquista, de finalmente realizar um plano que tinha faz tempo, foi ótima. Assinei o livro de visitantes, que é um caderno vagabundo com folhas soltas dentro de uma proteção de metal. A descida foi bem ruim pro joelho (eu já tenho problema no joelho!) e panturrilhas, além de ter esfolado no tênis um dos meus dedos do pé devido à inclinação excessiva. Devido a umidade que deixou diversos trechos escorregadios, demorou mais de 1hora.
Assinando o caderno de trilheiros.

No topo, haviam 2 cães do seu Alcebíades que me acompanharam na volta (incrível como existe cachorro em toda trilha!), mas ficavam emperrando na frente dos passos que eu dava, mais atrapalhando do que ajudando. Eles estavam aguardando qualquer lanchinho que eu tivesse, ganharam uns biscoitos :-). Final da tarde, missão cumprida, apenas uma boa noite de sono pela frente. Ainda vou voltar em dia de sol pra conferir o visual.

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